julho 26, 2008

As minhas mãos

Muitas vezes subestimamos aquilo que temos. Aquilo que naturalmente nasce connosco - pés, pernas, braços... mãos. Mãos tão singelas, de papel tão singular na vida de todos nós. Principalmente na minha vida...
Sempre menosprezei o poder das minhas mãos. Quando olhava para as mãos muito mais femininas das minhas amigas - dedos compridos, delgados, ossudos, unhas belíssimas - olhava, comparando, para as minhas mãos de dedos curtos e gordos. Que tristeza sentia! Que bom seria ter um par de mãos bonitas como aquelas.
Depois veio o desgosto de querer aprender um instrumento musical e achar que "não tinha mãos para a coisa". Cheguei a pegar na guitarra mas cedo desisti, até que chegou o violino à minha vida. O violino, sempre tão exigente: não só em termos de inteligência musical, mas também no que toca à destreza física dos meios disponíveis para fazer o instrumento falar, as mãos - nomeadamente, os dedos.

Oh professor, mas eu não tenho mãos para o violino! Os meus dedos são curtos e isso dificulta tudo...

ao que ele sempre me respondia

Não digas isso porque tive uma professora de violino com umas mãos muito mais pequenas que as tuas... e ela toca sem dificuldade alguma.

Simpatia ou não, aquilo sempre me dava um pouco mais de ânimo. Agora, depois de um ano e oito meses a insistir (apesar de não muito...) na aprendizagem do violino, noto algumas diferenças nos meus instrumentos físicos que expressam a minha arte: não sei se da prática do violino ou se por outro factor biológico...noto as minhas mãos mais magras, de veias mais salientes, e... de dedos um pouco mais alongados e magros. Um pouco, só. O que a mim já me faz algo feliz!

Há alguns dias escrevia para o blog e dei-me conta deste facto. Apesar de preferir escrever no papel, também é agradável ouvir o barulho de cada letra sair das teclas... e aí, enquanto escrevia, olhei as minhas mãos. Os meus olhos pairaram sobre elas em vez de sobre as letras do teclado. E dei-me conta de quão belas eram! Não pelo seu aspecto físico, já! Mas sim por aquilo que me permitiam fazer. As minhas mãos permitem-me escrever, à mão ou no computador, assim como também me permitem que (tente) tocar o violino. As minhas mãos permitem-me desenhar, permitem-me moldar barro. Permitem-me cumprimentar, servir, fazer a cama onde me deito... permitem-me acarinhar... com um simples gesto, tocar alguém. Permitem-me acariciar, fazer massagens, limpar lágrimas, puxar cabelos ou até dar um estalo. Permitem-me amar! E é isso que mais gosto nelas.
Claro que há também o lado oposto, como em tudo na vida... se me permitem amar, permitem-me também odiar. Destruir. Matar. Mas a beleza que me sinto chamada a construir é muito mais forte do que qualquer apelo à neutralidade... e apesar de as mãos de toda a gente mexerem em merda, todas têm também a oportunidade de ser lavadas.

Nesse dia, eu senti que as minhas mãos são o que de mais precioso possuo para trabalhar (n)o mundo - como instrumentos que fazem depender o pegar num pedaço de barro e fazê-lo parecer um monte de bosta... ou uma bela escultura. E senti que nunca tinha agradecido por elas.
Tão preciosas. As minhas mãos.




(Já diz o outro... "I can change the world with my own two hands") *

julho 15, 2008

(nozes) Podres

É de súbitos momentos, assim, que me nasce este inconformismo maior no peito e que entra este vulcão da minha raiva em erupção. Passo a explicar.
Cheguei da Caravana - se ainda não o explicitei, um retiro espiritual - há alguns dias, de manhã. Apesar de estar cansada senti a necessidade palpitante de me não deixar abater pelo mundo neste primeiro dia de atmosfera normal (confesso que guardo ainda um pensamento intermitente de deixar novamente esta merda - perdoem o termo, porque eu até gosto de aqui estar - e voltar para a Caravana. Parece ser lá o meu lugar, e isto aqui e agora é que vai acabar rapidamente para voltar...ah, não acredito que me lançaram às feras outra vez.). E como comunicadora assumida que espero vir a ser, que podia eu mais ter feito? É claro que liguei a televisão para ver as notícias (depois de uma semana sem televisão, devo confessar que senti alguma falta de consumir informação...).
Notícias que, no fundo, não eram bem notícias - disse-me a minha falta de bom senso. Gente que morre em guerras lá para os lados do Oriente, portugueses que vivem cada vez pior porque o primeiro ministro é um-este-e-um-aquele, o apito dourado que parece que não anda para a frente, blá blá blá...decidi-me a retornar ao meu quarto, após certificar-me de que o mundo não tinha mudado na minha ausência. Quando, num repente, o ouvir de uma notícia que me entrou ouvido adentro me faz levantar da cama e vir espreitar à porta do quarto para ver a televisão.
O meu pai estava na sala, sentado à mesa, a almoçar. Ambos assistíamos à notícia. "Quinze mexicanos morrem quando tentavam chegar aos Estados Unidos da América numa pequena embarcação de madeira. Este é mais um exemplo de tentativas de entrada ilegal no país por parte de muitos sul-americanos (...). Das quinze vítimas, nove eram crianças" (se não me trai a memória, penso serem estes os dados exactos da notícia).
Aquela frase ecoou na minha cabeça............nove eram crianças.NOVE ERAM CRIANÇAS.
O meu pai ganhara o estúpido hábito de comer nozes no fim das refeições. E lá estava ele, a mascar as suas estúpidas nozes. "As nozes estão todas podres", disse. Levantou-se da mesa e caminhou para a cozinha. E eu fiquei sozinha a digerir aquela notícia.
Nove crianças. Ainda hoje isto está a ecoar na minha cabeça. Naquela altura, só quis deixar o apito dourado e o primeiro ministro em paz na televisão, uma vez que parece ser lá o lugar deles, e deitar-me de novo na cama. Nove crianças morreram. Mas o comentário foi "mais uma noz podre. estão todas podres".
Realmente estão, pensei. Mas não são as nozes. São as pessoas.

julho 11, 2008

Uma grande gratidão...

Por vezes esperamos uma vida inteira por algo que parece tardar em chegar. Uma esmola do Senhor, uma luz divina que nos ilumine e nos dê um pouquinho de sorte, um pouco de amor daquele alguém que parece inalcançável...uma graça do Destino. O que a maior parte das pessoas ainda não percebeu é que... toda a felicidade possível e imaginária vem de nós. De dentro de cada um. Não estou, como é claro, a fazer a apologia da solidão: mas na solidão cada um pode encontrar dos tesouros mais preciosos que possui. Ao contrário do que eu imaginava (quando pensei encontrar na solidão a intensidade necessária a momentos marcantes e bem vividos) na solidão e na oração eu encontrei a calma, a serenidade. O mediano. O meio termo. Aquilo que, originalmente, eu odeio. Que não sou ou tenciono ser, alguma vez.
Como não o entendera antes? Nela eu encontrei o meio de equilíbrio essencial. Até porque (confesso) recorro a ela bastantes vezes. Cada vez mais frequentemente e inesperadamente...e também cada vez mais injustificadamente...muitas vezes as pessoas à minha volta não o entendem, eu sei. Mas se percebessem como é essencial e urgente, por vezes...
Talvez porque necessito não só de equilíbrio, mas também de riqueza. Riqueza que tenho encontrado nos outros (sem dúvida) mas que na grande maioria das vezes encontro no silêncio e na solidão. Na gratidão e na pequenez. Quando eu pensava que tudo isso era simples tristeza...como estava enganada. Era tudo uma grande graça (como tudo o deve ser na vida). Quando eu pensava que tudo isso era vazio...estava enganada. Tudo isso era riqueza.

Quanto mais não fosse...riqueza artística.


p.s. - pois é...nem de propósito. O meu texto antes publicado (7 anos, uma relação) sortiu o seu efeito e perseguiu-me na minha viagem de sete dias a Espanha (mais propriamente a Loyola e Xavier), a Caravana (o meu grande agradecimento pessoal a todos os que nela participaram). Qual não é o meu espanto ao verificar que o número do corredor em ficámos hospedados numa casa de jesuítas em Xavier era o número 70, e que todas as divisões do mesmo corredor possuíam o mesmo número (7) na sua contagem. Lembro especialmente a cozinha - divisão 77. Estes foram os sinais mais evidentes do 7...apesar de muitos mais se terem manifestado.

julho 01, 2008

In the end...always the same

Felt in love with your eyes
your wonderful smile...
but I just realised
you would stay just for a while

You've looked just unreal
your beautiful soul...
that is making me still
feel nothing but a hole

Asked you for the truth
you gave me nothing but lies
and in the end, it was nothing more
than a really sweet disguise...


now... I just want to forget
all that we have passed
and waiting for my chance
that will certainly come at last.

27/6/2008

7 anos, uma relação

Não me lembro de quando o número 7 passou a ser especial para mim, não me lembro de quando assumiu o estatuto que agora tem... mas lembro-me sim, desde sempre, que este estava para mim associado a boa sorte, essencialmente. No entanto, para dizer a verdade... não sei se alguma vez me trouxe "a mais pequenina esmola do destino"...
Com a adolescência veio o fazer do número 7 como que uma marca da personalidade: embora com muita teimosia, lá consegui, ao longo de mais de um ano, concretizar o projecto dos 7 furos na orelha direita. E para quem acha isto demais, declaro que se tivesse muitas mais orelhas, muitos mais furos faria... que querem? Sai mais barata esta pancada do que a de comprar roupa cara ou coleccionar carros, por exemplo. Não, não sou uma pessoa de grandes superstições... no entanto, o 7 foi aquele número com o qual me identifiquei - como se escolhesse um número, uma camisola para jogar.

Porém, há alguns dias, deparei-me com uma curiosidade interessante acerca do meu querido número.
Falava com a esposa do meu padrinho sobre relações, um pouco na base da "indirecta" - falávamos ambas daquele assunto sem propriamente o acusar. Achei que a relação deles já havia visto melhores dias... até porque todas as relações já tiveram melhores dias (refiro-me às relações a dois). Veio-me à memória, num repente, uma frase que a tia F. tinha dito uma vez: quem passa 7 anos de casamento, também passa o resto - sabedoria popular, pensei eu. S. corrigiu-me - não é sabedoria popular, é mesmo verdade.
A irmã de S. é psicóloga, ela própria lho havia já dito: de 7 em 7 anos, todas as relações sofrem grandes abalos, grandes perturbações. "Não tinha pensado nisso, que vocês já tinham passado os 7 anos", disse-lhe (o tempo corre mesmo depressa). "Pois, passámos há pouco. Mas já passámos", disse S., com cara de "custou, mas já cá estamos".
7 anos. Não será já uma grande vitória?
Parto amanhã numa viagem de 7 dias, da qual espero aqui dar notícias mais tarde...neste mês de Julho (7). Indício trágico?
Não percebo. 7. Pudera passar 7 dias seguidos na minha vida com sucesso. Pudera construir uma relação de 7 meses. Será de manter este 7 (azarado) como que uma espécie de amuleto? Será dos malditos furos na orelha?
Ou será dos (1)7 anos?

Vou por momentos pôr a hipótese de este azar constante estar associado às pessoas que me rodeiam...prefiro assim.