agosto 07, 2008

Álcool

Ouve-se, ao longe, o carro chegar.

Ouve-se o carro chegar mais perto.

Ouvem-se os passos nas escadas. A porta abre, a porta fecha.

Tudo na cozinha mexe. O frigorífico abre vezes sem conta, as latas mexem, os frascos, o caixote do lixo, a lata do pão, tudo abre e fecha vezes sem conta. Repetidas vezes mexem os mesmos objectos.

O autoclismo é descarregado.



Agora noto melhor. Pareço ter ouvido tísico, mas não... é apenas treino. O intervalo de tempo que meço separar cada passo dá-me a quase certeza de que um torpedo sem equilíbrio se arrasta de parede em parede na cozinha.

Repete os mesmos movimentos. O frigorífico, as latas, os frascos, o caixote do lixo, a lata do pão... todos os movimentos se repetem, tudo mexe. Tudo faz barulho. Do género "então? cheguei a casa! não há ninguém nem nenhum banquete à minha espera??"
E a minha paciência esmorece. Os meus sonhos, a minha vontade, a minha alegria, até mesmo o meu corpo... tudo esmorece em mim. Subitamente, os meus músculos são também eles pesados e sem força... como que numa relação de causa - efeito. Ele bebe e deambula. Eu esmoreço, e vou dormir para só amanhã acordar.