Os dias nascem frios, cinzentos, preguiçosos, vazios de sentido ou significado. Os olhos teimam em abrir porque o sono é persistente...mas os dias, esses todos têm de começar. Movendo-se na multidão, ela encontra o significado dos dias nas cores reluzentes que sobressaem no meio dessa mancha de pessoas: os pares de olhos que, a seu ver, se destacam nos vultos apressados, desesperados, divertidos. Olhares trocados... cúmplices, de ódio, de desejo, de tristeza... olhares que se guardam, envergonhados, e que acabam por rolar em avalanches de lágrimas, olhares que só duas pessoas poderão saber que existiram, mas que ela captou. E ri das paixões tontas dos outros, por as achar tão singularmente doces...
Quanta privação de amor sofrem os que amam. E quem amará o artista? Que fecha os olhos e sabe que todo o seu ser é amor?
Talvez nunca o tenham visto nos olhos dela... porque quem gosta de inadvertidamente ver nos olhos dos outros está treinado para esconder os seus. Ou talvez porque nunca tenham olhado verdadeiramente os olhos dela... hoje em dia as pessoas não se olham nos olhos, preferem olhar os outros como se tivessem o olhar nas mãos. Mas lá no meio da multidão está ela. Observadora, perspicaz, sarcástica, vai olhando e absorvendo tudo à sua volta. E ri das tontices dos outros... das suas... que guarda por detrás do seu olhar. maybe you can see it in her eyes.
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