dezembro 15, 2008

The easier is not the best

Reconheço nas diversas pessoas que me rodeiam diferentes tipos de problemas. Obviamente, cada um tem os seus. Mas de há algum tempo para cá distingo origens distintas destes mesmos problemas, e creio que as suas fontes, a sua razão de ser, dividem as pessoas, os grupos. Por vezes, dividem-nos mesmo a nós próprios.
Refiro-me, em certa medida, a estas pessoas da geração MSN (escreve-se assim!) e do telemóvel. A estas pessoas a quem excita a mente e os sentidos comunicar virtualmemente, num mundo a pixels, não tendo que olhar nos olhos de ninguém. Mas que, se necessário, passam toda uma conversação a babar-se para a fotografia de exibição do MSN. Esta geração Hi5, que quer integrar-se forçosamente no miserável mainstream, com fotos a preto e branco, com sorrisos falsos julgando tornar a fotografia mais bonita, fazendo questão de exibir o seu corpo esbelto (ou não, não interessa... aproveita-se o melhor dele) e a sua personalidade tão demarcada. Sempre as mesmas poses, fofas, envergonhadas, "eu marota" "eu pensativa" "eu tistinhah". "Eu monte de merda"! E eu, que me julgo uma pessoa tão simples e tecnologicamente atrasada a ponto de odiar o Hi5? Que papel tenho eu no meio desta sociedade, que futuro tenho, que forma de me afirmar?
Este é, creio, um dos problemas dos jovens de hoje em dia. Apesar de um problema social é também um problema individual, creio eu. Mas não era a este tipo de problemas que me referia anteriormente. Refiro-me áquilo que vejo individualmente, em cada pessoa que observo, nomeadamente nas que conheço melhor. E creio que esta divisão se vem acentuando.
Que o país e o mundo atravessam uma crise financeira, não é novidade. No entanto, o que me chama a atenção é a faceta social da dita crise, para a qual acredito que este descalabro na economia esteja realmente a contribuir.
Uma verdadeira crise! Não nas cotações da Bolsa, mas nos valores com os quais as pessoas são cotadas! Talvez sejam os sinais dos tempos - dentro de anos poderei achar estas considerações ridículas. Cada tempo, cada fase da evolução necessita de uma mentalidade rejuvenescida, de novos olhos para ser encarada com justiça. Ao viver nesta geração, talvez não possa encarar estas vivências com a sensatez devida. Mas, em verdade, é isto que sinto. Por um lado, todos os jovens são encarados como nascidos desta mesma bolsa, "todos do mesmo saco": uma geração que a tecnologia, a vaidade e a superficialidade prenderam dentro de si. Por outro lado, a noção de que um grupo restrito destes jovens apresenta a maturidade e o conjunto mínimo de valores essenciais à formação de um alguém versátil e empenhado. Refiro-me à raíz do problema que exponho: aqueles que têm tudo e aqueles que nada têm.
Revolta-me, do fundo de mim, olhar para as pessoas à minha volta , perceber aquilo que têm e de que dipõem e aquilo que realmente faezm disso, aquilo (em) que (se) transformam. Não falo apenas dos meios materiais, mas em todos: não me refiro a nenhum caso em concreto, porque não posso julgar tudo acerca de quem quer que seja. Mas posso deduzir. E são casos coincidentes a mais para que esteja enganada.
Como pode alguém que tenha tido uma boa educação, um ambiente familiar estável, carinho e compreensão e todos os meios económicos ao dispor, poder não fazer nada dos meios que possui? Como pode o objectivo de vida de alguém a quem tudo é dado ser ir passear até à escola, chegar a casa e deixar a louça suja em cima da mesa e fazer um bom serão de MSN, acabando a noite em beleza com uma boa sessão de SMS? Não está em causa a capacidade intelectual das pessoa, mas sim o esforço, o empenho e formação a nível moral.
Contrapondo: como pode alguém com um ambiente familiar não tão estável, talvez com lacunas afectivas que alguém tenha deixado por preencher, com meios económicos não tão vastos (muitas vezes bastante limitados, até) que pega em cada pequeno pedaço de oportunidade para se esforçar mais, trabalhar mais, formar-se mais como pessoa, pedir sempre melhor! Como é possível que, muitas vezes, este tipo de pessoas que chega a abdicar de sonhos para tentar edificar um futuro (com alguma garra que talvez tenha ainda sobrado da desilusão...) possa sair a perder? E como se explica qie aqueles que que possuem estes meios abdiquem também dos seus sonhos... por falta de vontade? Por preguiça... ou simplesmente por não terem sonhos...
Cada caso é um caso, é certo. Pessoas há que, com posses económicas, não são assim tão felizes. Mas num mundo em que o valor monetário se tornou tão importante, como podem estes não pensar nos projectos magníficos que podemos oferecer a nós próprios? Que poderão dizer aqueles que, sem posses (e muitas vezes já sem vontade) vêm os seus sonhos desvanecer-se, ou fecharem-se na gaveta?
Estou, como me parece óbvio, a generalizar a situação (nunca a particularizá-la), visto ser esta a minha perspectiva. E para provar que não estou a vitimizar quem quer que seja nem a fazer a apologia do coitadinho, digo: the easier is not the best (não sei porque penso, às vezes, em inglês...). O mais fácil não é o melhor, o mais simples não é o caminho mais acertado!
Há pessoas para quem (julgo) acho que tal preceito seja difícil de entender. Pessoas para quem olho, que vergam constantemente à menor adversidade. Pessoas com medo de se comprometer, de se desiludir e magoar, de falhar. De trabalhar, de se cansar! Que preferem não tentar, porque dá muito trabalho...
No fundo, muitos de nós preferem seguir um caminho de veludo e passadeira vermelha a um caminho de pedra. Mas o segredo está em contrariar esta vontade e ganhar gosto em fazer alguma coisa, seja ela qual for, e fazer disso um projecto. Porque não me revoltam verdadeiramente as pessoas sem vontade (acontece-nos a todos) mas as pessoas sem gosto em nada, sem sonhos! Revoltam-me as que escolhem o caminho mais bonito por ser mais fácil, que fogem da adversidade e não sabem usar a própria cabeça para resolver problemas. Nem os mais simples... entristecem-me aqueles que não têm respeito àquilo e àqueles que têm.
Como costumam dizer nos filmes, nunca ninguém disse que ia ser fácil. E se nunca disseram que ia ser fácil, porque insiste esta geração em procuarar o facilitismo? Não é necessário procurar muito, tudo aquilo de que alguém precisa para se lançar tem muito de esforço e dedicação, tanto quanto como de convicção, vontade e garra - tudo coisas que cada um encontra dentro de si. As adversidades são raios de sol nos caminhos tumultuosos e manchas negras nas passadeiras vermelhas.

Como também alguém disse... a sorte protege os audazes. Mas quem serão os audazes destes tempos? Os que têm a coragem de se exibir em Hi5s ou aqueles que tentam sair do anonimato desta sociedade pelo seu esforço e mérito pessoal?
Não sei ao certo... mas boa sorte para os audazes, de qualquer forma.


Para AM e AM
8/10/2008

3 comentários:

Anónimo disse...

grande inês.concordo em todos os sentidos. tenho saudades tuas minha querida.tenho de ir até coimbra ver te :) grande beijinho,hope you´re so so fine. madalena,axel rose

Anónimo disse...

Estamos ligados em rede, diz-se. Mas, em muitos casos, apenas se devia dizer: “estamos em rede”, evitando falar de ligações.

Entrando numa página pessoal do Hi5, do Myspace ou outra qualquer congénere, muito facilmente se percorre toda uma cidade, região, país, continente…

E há de tudo um pouco, claro, por isso, nenhuma generalização é legítima.

Mas, muitas dessas páginas são impressionantes pelo grau de exposição a que as pessoas (se se trata em todos os casos de pessoas reais…) voluntariamente se expõem.

Fotografias de rosto explícito em sítios facilmente reconhecíveis, moradas (mesmo que muitas incompletas), gostos pessoais, o que se lê, a música que se ouve, o que se gosta de comer, onde se vai à noite, com quem se namorou ontem ou vai namorar amanhã…

Cada página apresenta (supostamente) alguém. São milhões de pessoas que conduzem facilmente umas às outras. Tudo acaba por se perder. Não é a falta de informação que o provoca, mas sim o excesso. O anonimato é irremediável, tal como a perda de privacidade.

Torna-se cada vez mais nítido que o sistema em que vivemos aprendeu a explorar todas as dimensões do ser humano. Repare-se que somos constantemente incentivados a procurarmos a nossa própria afirmação – mais do que um direito, essa ideia começa a ser inculcada como um dever. É esse um dos mecanismos da sociedade de consumo: não temos apenas o direito à felicidade – temos o dever! Ao mesmo tempo, são-nos proporcionados os canais dessa afirmação: mas são canais de solidão, de silêncio por excesso de ruído, de anonimato por ofuscação de nomes. Em cada uma destas páginas, aquilo que se lê nas entrelinhas são milhares de pessoas pedindo socorro: “Por favor, notem que eu existo, estou aqui, alguém repare em mim por favor!”.

Não há ligação, apenas conectividade. A solidão aumenta à medida que cresce a expectativa de se ser encontrado. Segue-se a (des)ilusão.

David Pimenta disse...

que talento Inês, que talento!